1. De 2015 para cá, com o escalonamento do Proconve MAR-I, quais foram as principais mudanças aplicadas ao desenvolvimento de
motores (para máquinas agrícolas) da marca?
O setor agrícola está sempre evoluindo e as mudanças se refletem, principalmente, na automação visando a autonomia das máquinas, conectividade com possibilidade de monitoramento remoto, aplicação de agricultura de precisão, aumento de eficiência e produtividade e foco em sustentabilidade. Tudo isso contribui para a redução das emissões de gases de efeito estufa.
As máquinas agrícolas sofreram grandes evoluções tecnológicas em um curto período de tempo que aumentaram a produtividade em campo e reduziram o consumo de combustível. Novas tecnologias chegaram e possibilitam às máquinas utilizar combustíveis alternativos de baixa ou zero emissões.
Líder em powertrain, a FPT Industrial trabalha continuamente para desenvolver motores mais eficientes. O MAR-I/Tier 3, como chamamos na FPT, estabeleceu no Brasil um novo patamar tecnológico para motores, a partir do desenvolvimento de novas soluções em pós-tratamento. Como marca líder em inovação, com mais de 150 anos de história, a FPT Industrial disponibiliza ao mercado diferentes tecnologias neste sentido, aplicáveis à realidade de cada tipo de missão. Entre as soluções em pós-tratamento estão o EGR (Recirculação dos Gases de Escape), para motores de injeção mecânica ou eletrônica Common Rail, e o Light SCR (Redução Catalítica Seletiva), para motores eletrônicos. Graças ao seu perfil inovador, com mais de 55% das vendas dedicadas ao mercado aberto, a FPT é o fabricante com maior quantidade de motores homologados em conformidade com o MAR-I/Tier 3 na América do Sul. Desde 2015, desenvolvemos mais de 50 novas configurações.
2. Podemos dizer que temos um “antes e depois” [de motores no campo] do Proconve MAR-I?
Sim. Anteriormente não havia limites e os motores eram considerados “não emissionados” ou TIER 0 (com emissões brutas acima do chamado Stage I). Atualmente, com os novos limites em vigor, houve uma redução média de emissões de 60% de material particulado (MP) e de 56% de óxidos de nitrogênio (NOx).
Como comparação, seis máquinas equipadas com motores MAR-I/Tier 3 trabalhando no campo ou em uma obra geram o mesmo volume de
emissões de apenas uma máquina “não emissionada”.
Além dos ganhos em reduções de emissões e de ruídos nos motores, os investimentos em otimização e melhorias dos processos para a chegada do MAR-I/Tier 3 levaram as fábricas da FPT em Sete Lagoas (MG) e Córdoba, na Argentina, a obter as certificações do World Class Manufacturing, sistema da CNH Industrial estruturado na melhoria contínua, projetado para eliminar desperdícios e perdas do processo de produção.
Um a cada três tratores e duas colheitadeiras comercializados no Brasil são movidos pela FPT Industrial, marca líder em powertrain com mais de 690 mil motores em circulação somente na América do Sul.
3. A qualidade do óleo diesel oferecido no mercado atualmente atende adequadamente as especificações dos motores ou há
algum tipo de “escape” devido a essa qualidade?
Para que haja uma redução de poluentes de forma significativa, além do que é estipulado pelo Proncove MAR-I, outro item de extrema importância deve ser levado em consideração: o tipo de combustível utilizado nas operações agrícolas. Atualmente, no Brasil, encontramos dois tipos de diesel: o S-10 e o S-500.
Uma ação interessante para avançarmos ainda mais nas reduções de CO2 seria a comercialização de um único tipo de diesel com baixo teor de enxofre. Lembrando que nossos motores MAR-I/Tier 3 já são projetados para trabalhar com esses dois tipos de combustível, sem a necessidade de qualquer aditivo. Essa ação teria um resultado muito expressivo para o meio ambiente. Se, ainda, esse combustível for oferecido por um preço por litro interessante, as operações agrícolas se tornariam mais sustentáveis e economicamente viáveis.
Outro avanço necessário é a criação de uma especificação técnica padrão para os biocombustíveis. Veja no caso do biodiesel, por exemplo. Ele pode ser de origem vegetal ou animal e cada uma dessas origens têm impactos diferentes no consumo, na performance e na quantidade de emissões de poluentes.
4. Se o produtor possui uma máquina com motor antigo e utilizar o novo diesel, com teor mais baixo de enxofre, há benefícios para o meio ambiente? Ou ainda, nessa situação, há prejuízos ao motor?
A melhoria na eficiência de motores agrícolas é necessária para reduzir os impactos ambientais e os custos das atividades agrícolas. Quando se utiliza o diesel S-10, os benefícios são muito maiores, pois ele possui aditivos complementares ao combustível. Entre eles podemos citar a redução de até 80% das emissões de material particulado (MP), a melhoria na ignição e redução da emissão de fumaça branca na partida a frio, além da diminuição da formação de depósitos no motor e contaminantes no lubrificante. Utilizar diesel S-10 em um motor mais antigo pode ser irrelevante, pois dependendo da geração do motor, não absorverá todas as qualidades e efeitos positivos do S-10. O ideal é que seja escolhido o tipo de óleo diesel de acordo com as características do veículo/motor.
5. Como o proprietário da máquina agrícola deve fazer a manutenção desse motor?
Sempre observando as recomendações do manual da máquina, realizando as revisões nos prazos estipulados e utilizando o combustível indicado.
6. FPT está desenvolvendo algum tipo de motor com combustíveis alternativos (bio)? Se sim, quais e em que estágio de desenvolvimento?
A FPT Industrial tem em seu DNA a pesquisa e o incentivo aos combustíveis alternativos. Com foco em produtividade, eficiência e sustentabilidade, buscamos sempre estudar o cenário, entender as necessidades e identificar as tendências de mercado.
Dessa forma, novos investimentos da FPT são dedicados ao desenvolvimento de motores que apresentem possibilidades inovadoras. Um exemplo é o teste dedicado ao biodiesel de macaúba, apresentado recentemente pela marca no Brasil. Palmeira nativa presente no cerrado brasileiro, em savanas e florestas abertas da América tropical, a macaúba é uma planta de múltiplo uso que vem sendo utilizada para produção experimental de biodiesel. O projeto foi realizado pelo Technical Center da FPT em parceria com a PUC Minas, Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e Bchem Biocombustíveis, utilizando o motor FPT N67 MAR-I/Tier 3, presente nos tratores agrícolas da Case IH e New Holland Agriculture, marcas que também compõem a CNH Industrial. Os resultados demonstraram desempenho e consumo equiparáveis com o diesel comercial brasileiro, mas que proporciona combustão mais completa, com tendência de redução das emissões em comparação com o diesel comercial.
Outro exemplo é o motor da FPT Industrial desenvolvido para o trator conceito da New Holland Agriculture movido a biometano. O trator conceito utiliza motorização com uma avançada e eficiente tecnologia de combustão especificamente desenvolvida pela FPT Industrial para aplicações agrícolas, apresentando o mesmo desempenho da versão a diesel, mas com 30% de redução dos custos. Permite ao produtor rural um patamar mais elevado de operação, não somente pela produção com menor impacto ao meio ambiente, mas podendo trabalhar com autonomia energética, redução de custos e o mesmo desempenho de um trator padrão.
O projeto demonstra a sinergia entre FPT Industrial e as marcas da CNH Industrial. Sinergia que contribui para o desenvolvimento de novas tecnologias em prol do desenvolvimento sustentável. Especificamente neste caso, o trator conceito movido a biometano da New Holland Agriculture cria um elo vital para a Fazenda Independente de Energia, termo que representa, entre outros aspectos, a possibilidade de o produtor rural desenvolver seu próprio combustível nas operações diárias de trabalho, o que representa a transformação energética que vem acontecendo nas propriedades rurais do Brasil.
7. Pensando em um cenário para os próximos 10 anos, o óleo diesel ainda será o principal combustível utilizado nas máquinas agrícolas?
Acreditamos que nos próximos dez anos teremos uma matriz energética mais diversificada devido a outros combustíveis que estão surgindo, como o biometano.
Como marca, a FPT Industrial trabalha há mais de 25 anos com tecnologia própria para utilização de gás natural. Somos líderes na Europa com mais de 50 mil motores comercializados. Nossos motores são criteriosamente desenvolvidos e validados para operar com gás natural comprimido, gás natural liquefeito e biometano, equiparando-se a um motor diesel de mesmo porte – o que chamamos de “Diesel Like”.